A MORADA ESPECIAL

Por Iran Edson

“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” I Coríntios 6:19

Na colportagem tive a oportunidade de conhecer todo tipo de moradia. Desde mansões maravilhosas a casebres muito simples. Casas feitas de tijolos com laje e reboco e casas feitas de pau-a-pique com buracos por todos os lados. Qual casa você escolheria para morar? Uma bela e resistente casa ou um casebre mal cuidado e frágil?
Jesus comparou os que recebem suas orientações com dois homens que construíram casas para si (Mateus 7:24-27; Lucas 6:48,49). O primeiro se preocupou desde o início onde e como construir e fez suas bases na firme rocha que permaneceu intacta. O segundo não levou em conta os princípios básicos e construiu na areia e isso foi sua ruína.
O nosso corpo é também uma moradia especial e seu habitante exige que suas estruturas e aparência estejam nas melhores condições possíveis. A nossa alimentação não é a mais natural. Submetemos nosso corpo aos mais incríveis testes de resistência comendo de tudo que compromete o organismo, e o resultado é um corpo enfermo e fraco. Não é por falta de luz que cometemos tal delito. Como podemos esperar que o Espírito Santo habite e opere milagres em nossa vida se não lhe damos o mínimo de condições para tal?
“O recebimento interior do Espírito Santo, que nos transforma à imagem de Deus, prossegue a obra de santificação que em nós iniciou através do novo nascimento. Deus nos salvou de acordo com Sua misericórdia, ‘mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo que Ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador’ (Tito 3:5 e 6)”
[1]. Uma casa onde não existe um habitante logo começa a se autodestruir e as rachaduras são inevitáveis. Um corpo que não é habitado pelo Espírito de Deus logo chegará a sua ruína. “O Espírito é vital. Todas as mudanças que Jesus Cristo opera em nós, advêm-nos pela operação do Espírito. Na qualidade de crentes deveríamos reconhecer constantemente que, sem o Espírito, não seremos capazes de empreender coisa alguma (João 15:5)”[2].
Nosso corpo foi apenas emprestado e não devemos abusar dele “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?”


REFERÊNCIA

[1] E. G. White, Testimounies for the Church (Mountain View, CA: Pacific Press, 1848), vol. 8, págs. 21 e 22.
[2] Nisto cremos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003) pág. 98.

O PASTOR NA INTIMIDADE DO LAR

Por Iran Edson


“Coisa alguma pode desculpar o pastor de negligenciar o círculo interior, pelo mais amplo círculo externo. O bem-estar espiritual de sua família vem em primeiro lugar. No dia do final ajuste de contas, Deus há de perguntar que fez ele para atrair para Cristo aqueles que tomou a responsabilidade de trazer ao mundo.”
WHITE, O lar adventista, 1995

INTRODUÇÃO

A vida do pastor é cheia de desafios e obstáculos que o levam a vencer ou desistir da luta em que escolheu enfrentar. O pastor deve dar atenção para a igreja e membros, mas não pode deixar de lado sua família. É comum no ministério pastoral se deixar levar pelos compromissos ocasionando em “abandono” do lar.
Essa preocupação invade todas as famílias que acabam sendo prejudicadas pela pouca assistência do pastor como marido e pai. Muitas esposas de pastores ficam estressadas e preferem desistir do casamento, mas não pára por aqui. De forma intensa, têm os filhos de pastores, passado por sérios problemas de ordem psicológica e a pressão social faz acarretar em distúrbios que os levam a se tornarem rebeldes e por vezes agressivos.
Este estudo limitou-se à pesquisa bibliográfica e eletrônica embasados nos conhecimentos e idéias de seus autores: Silva (1997), Soares (2005), Wilder (1989), White (1995), Streeter (1986) e outros.
De acordo com os autores, o pastor deve ter o devido cuidado com a igreja sem que suas atividades interfiram ou prejudique seu relacionamento e deveres como chefe da família.
Enfoca-se a esposa e os filhos do pastor como principais personagens, mas também demonstra qual é o papel do pastor como marido e pai e as reações dos membros da família.
Não estamos apenas analisando o lado negativo (mesmo porque, num lar com mais de um filho pode haver variantes onde um é dedicado à causa de Deus e o outro totalmente revoltado), mas também os benefícios de ser pastor, principalmente quando há harmonia nos lares pela sábia administração familiar e busca constante da orientação divina.

Quando um homem aceita as responsabilidades de pastor, declara ser um porta-voz de Deus, para receber as palavras da boca de Deus e dá-las ao povo. Quão intimamente então deve ele conservar-se ao lado do Grande Pastor; quão humildemente deve andar diante de Deus, ocultando-se a si mesmo para exaltar a Cristo! E quão importante é que o caráter de sua esposa seja segundo o padrão da Bíblia, e que seus filhos estejam em sujeição com toda a seriedade!
[1]

Nota-se a necessidade de pesquisar e saber mais sobre o assunto, trazendo à tona a realidade nos lares ministeriais.
Deste modo, preocupar-se com o tema é de fundamental importância para desvendar e/ou entender os conflitos e glórias da família pastoral.
O processo de construção deste estudo “O pastor como marido e pai e a reação da família” deu início no começo do primeiro semestre de 2005. A documentação foi feita através de muita leitura em livros e pesquisa eletrônica que resultou em melhor aprendizado tanto na área metodológica como na área familiar comportamental.
À medida que se pesquisava mais e mais envolvente se tornava e mais crescia o interesse e preocupação com os futuros pastores, os teologandos, em suas atividades familiares.

O PASTOR

O pastor é uma pessoa escolhida, separada para desempenhar uma missão divina e dentro dele arde o desejo de fazer o melhor para Cristo. Ele guarda em sua consciência a responsabilidade de efetuar o seu papel como ministro.
Sua vida de estudo nas diversas áreas capacita-o para enfrentar os desafios que virão pela frente de forma maleável e prudente. Ele é um exemplo e, por onde ele passa está sendo observado. Suas atitudes a ações determinarão o seu caráter e conduzirão para a manifestação benéfica ou maléfica.
Sabemos que a maioria das pessoas pensa que o pastor não passa por problemas, acham que leva uma vida muito boa, tem emprego garantido, benefícios, é um homem de Deus, seu trabalho envolve a Sua palavra, realiza visitas, faz aconselhamentos, tem sempre uma resposta para os problemas alheios, sabe pregar. Tudo isso é maravilhoso, não dá nem para imaginar numa possibilidade de o pastor ter problemas conjugais ou com os filhos. Talvez a tarefa mais difícil seja administrar o lar. “O obreiro precisa ter visão correta das prioridades do seu ministério. É saber definir o que deve ser feito primeiro numa série de atitudes ou comportamentos. É uma questão de ordem nas coisas.”
[2]
Como todo ser humano, o pastor também viver as emoções que a vida proporciona, ficando ele sujeito a decepções, tristezas, alegrias, raivas, felicidades, satisfações... Tudo isso nos leva a crer que, sendo assim, há necessidade do convívio constante com Deus para se ter um equilíbrio espiritual, psicológico e adquirir uma inteligência emocional racional.
Em muitas famílias há seus problemas, mas em maior destaque está na família pastoral. Todos os olhos estão voltados para o pastor e sua família, assim, qualquer passo em falso... Hei!!!... Pronto! Lá vai o nome do pastor para a língua do povo.

O pastor e a sociedade

Hoje a imagem do pastor anda em baixa ante a sociedade de modo geral. São tantas as religiões, cada uma com sua ideologia, cada uma com seu sistema. Os noticiários andam como, por assim dizer, perseguindo os pastores. É uma notícia atrás da outra e, para a maioria, o pastor não passa de mais um vigarista que suga o dinheiro dos membros.
Infelizmente até em nosso meio encontramos pastores desonestos que não conseguem manter uma vida íntegra e vive, de alguma forma, desviando dinheiro sagrado para despesas próprias, sem falar de outra maioria que se entrega às paixões carnais e acabam em adultério, por vezes, com uma irmã da igreja.
Claro, não podemos generalizar, ainda existem milhares de pessoas que necessitam e que acreditam piamente que o pastor é um ungido do Senhor, um homem de Deus e é neste momento em que o pastor, que está corretamente no caminho do Senhor, cumpra seu papel fundamentado na verdadeira rocha que é Cristo.

O Pastor e a igreja

Sendo um ungido do Senhor, cabe ao pastor andar retamente nos preceitos de Deus e atender vividamente às necessidades de sua igreja a qual foi lhe entregue em total responsabilidade. O pastor que tem consciência de sua missão buscará sabedoria para decidir o que deve ou não fazer nas diversas situações.
Lamentavelmente temos observado pastores que não se enquadram no perfil de integridade e lealdade. O que muitas vezes vemos são profissionais, administradores e técnicos que trabalham na obra do Senhor, mas não conhecem o Senhor da obra.

O pastor e a família

Por estar tão envolvido com sua atividade e responsabilidade religiosa o pastor acaba negligenciando sua participação como condutor do lar. Passa tanto tempo dedicando sua vida à causa de Deus, tanto estudo, tanta preocupação que o tempo e a paciência parecem esgotar em relação à sua família.

"A esposa e os filhos precisam se sentir importantes na vida do esposo e do pai. Da mesma forma que, como pastor, ele não falta a um compromisso assumido com os irmãos, como esposo e pai, não deve, de forma alguma, deixar de cumprir os compromissos assumidos com a sua família. Esse papel de esposo e pai não deve ser encarado como mais uma obrigação, mas, sim, como uma experiência extremamente agradável e revigorante, pois faz parte dos planos de Deus para a família dos seus ungidos."
[3]

Espera sempre que, sendo ele um servo de Deus, obtenha compreensão e paciência dos seus filhos e esposa em relação à sua ausência no lar, e com isso vai perdendo o respeito e o amor dos mesmos.
Aquele, porém, que busca iluminação dos céus e consegue equilibrar seus deveres no lar e na igreja, torna-se um vitorioso aos olhos humanos.

O pai de família

O pastor tem as mesmas responsabilidades que qualquer pai de família. Jamais deve deixar os seus de lado para cuidar dos outros. “O pastor que pensa na sua família, quando organiza sua agenda de trabalhos, com certeza, obterá melhores resultados no cumprimento de suas tarefas junto à igreja que pastoreia.”
[4]
Sua atenção e carinho devem ser dobrados para suprir a sua ausência. Seus momentos com a família devem sempre deixar um gostinho de quero mais. “Quando estes deixam de governar a sua casa, estão pelo seu mau exemplo, transviando a muitos. Sua culpa é tanto maior do que a dos outros quanto sua posição é de maior responsabilidade”.
[5]

A esposa do pastor

Ser esposa é um privilégio de poucas. São muitas as bênçãos, pois ela faz parte do ministério designado ao marido. Seu companheirismo, atenção, cuidado e amor contribuem para que a obra do Senhor seja realizada de maneira mais plena. O que seria do pastor sem a sua auxiliadora?
Na realidade, essa não tem sido uma tarefa muito fácil, pois muitas esposas têm sentido muita falta da presença dos maridos que passam, às vezes, mais tempo fora do que dentro de casa e, mesmo quando estão, sentem-se demasiadamente cansados para dar a devida atenção, tratam suas esposas como domésticas querendo tudo pronto no momento de sua volta.
Este é um ponto em que se deve uma atenção dobrada, Soares afirma que “O pastor deve cuidar de sua família com o mesmo zelo que lhe é exigido no cuidado com a Igreja. Deve separar tempo, a fim de oferecer atenção especial à esposa e aos filhos.”
[6]
A esposa do pastor está relacionada importantemente no ministério pastoral. Sua influência pode afetar diretamente o esposo que por vez já está sobrecarregado de problemas dos membros e igreja e é neste momento em que se deve ter maior paciência. “A esposa de um pastor poder ser a mais bem-sucedida ajudadora e uma grande bênção a seu marido ou um estorvo em sua obra. Depende muito da esposa se seu marido subirá dia a dia em sua esfera de utilidade ou se descerá ao nível vulgar.”
[7] Por sua vez, o pastor também deve saber como lidar com a esposa, tratando-a como a preciosidade mais valiosa do mundo, respeitando-a e fazendo com que os filhos tomem o exemplo de amor. “O marido que protege a esposa contra a falta de respeito e de cortesia dos filhos, instala neles o senso de respeito para com todas as mulheres.” [8]
É muito difícil para uma mulher aceitar um tratamento frio e indiferente. O pastor deve se preocupar mais com sua família para não perdê-la do que com a assistência às igrejas.

"Se perderes tua mulher, ninguém mais dará ouvidos ao que disseres. Podes construir uma grande igreja, mas se o teu lar se despedaçar, perderás o teu ministério [...] a igreja depende de tua vida familiar. Trarás mais desgraça ao ministério com teu divórcio do que todos os outros benefícios... ademais, todos os crentes estão olhando para teus filhos... teu ministério primário deve ser teus filhos. Eles devem ser os membros principais de tua igreja. Então, juntos, tu, tua esposa e teus filhos edificareis a igreja.” [9]

Se os pastores buscam a organização familiar mantendo a privacidade do lar, conseguirá evitar um acarretamento de atividades no qual facilitará em muito a vida familiar.

Os filhos do pastor

Os filhos são bênçãos para o casal, foi assim durante muitos séculos, mas hoje ser filho de pastor é um grande desafio. Ao tratar desse assunto vem logo à cabeça a palavra “exemplo”. As pessoas ao seu redor não admitem que um filho de pastor cometa algum erro. Eles são observados a todo instante, dando a impressão que são pessoas de outro mundo, que não passam por problemas nem decepções.
Para muitos, o filho de pastor não pode perder a calma nem sair da linha. “Em certos momentos a cobrança chega a ser excessiva, impondo-lhes rótulos do tipo: metidos, protegidos. Um erro por parte deles pode ser fatal, e a oportunidade de ouro para os acusadores de plantão os difamarem com expressões: É filho de pastor! E diz que é crente! E nessa, não são os filhos, mas os pais (os pastores, no caso) também são caluniados.”
[10] Nessa cobrança, como se não bastasse, vem agora o pai-pastor com a mesma ideologia e, protegendo a imagem, tenta reprimir o filho, mas a sua tentativa só o deixa mais indignado que antes. Parece ser mais fácil privar os filhos do que entendê-los.
White, trazendo orientações aos obreiros comenta que “Os filhos dos pastores são, em certos casos, os mais negligenciados do mundo, pela razão de que os pais não estão com eles senão por pouco tempo, e ficam na liberdade de escolher suas ocupações e entretenimentos”.
[11]
Os filhos passam por muitos problemas com a sociedade e família. A cobrança constante dá a impressão que nasceram como filhos de pastor para sofrer, porém, o pai-pastor deve mostrar que foram separados não para o mal e sim para o bem, encorajando-os e animando-os a superar os obstáculos de uma família pastoral, mostrando a recompensa, não terrestre, preparada para os que servem no ministério do Céu. Além disso, deve o pai-pastor dedicar tempo para estar com os filhos, brincando, conversando, passeando e participando das atividades sociais, extra religiosa, como: ir à lanchonete, ir ao shoping, parque...
O Pastor que preza por uma família unida e harmoniosa procurará manter seu temperamento controlando até seu tom de voz, não usando expressões grosseiras ou estúpidas, evitando provocar a ira de seus filhos.

"A maneira como os pais lidam com a raiva é muito importante porque as crianças são muito sensíveis às expressões de ira dos pais. É possível para elas se desviarem ou reagir de forma casual. Mesmo um único incidente de explosão de raiva pode causar extrema dor, assim como o controle maduro da raiva pode intensificar o amor entre pais e filhos. O comportamento depressivo dos pais pode causar culpa nos filhos [...] Fica difícil para os pais estabelecer e exigir limites."
[12]

Consultando o manual de instrução

Para alcançar um lar feliz e harmonioso é preciso vencer a batalha da rotina. Uma família unida não se conquista da noite para o dia, exige-se esforço e dedicação. Assim como uma liga esportiva que quer vencer numa olimpíadas treina todos os dias para obter o êxito, assim também o pastor deve lutar, pois a guerra é também espiritual.

"Satanás está sempre em atividade para enganar e levar ao extravio pastores aos quais Deus escolheu para pregar a verdade. A mais eficaz maneira em que ele pode atuar é mediante as influências do lar, por meio de companheiras não consagradas. Se lhes pode controlar a mente, logra através dela mais prontamente ganhar acesso ao marido, que está laborando na palavra e na doutrina para ganhar almas. [...] Satanás não tem tido mãos a medir em controlar as atividades dos pastores mediante a influência de companheiras comodistas e egoístas."
[13]

Veremos a seguir algumas orientações que servirão de farol para nortear o rumo dos pastores que querem ter sucesso no relacionamento familiar:

Qualidade do pastor

A Bíblia traz as características de um obreiro dedicado ao serviço de Deus deixando bem claro e receita do sucesso. O apóstolo Paulo em uma de suas carta a Timóteo escreve:

"Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja. É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo. Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo." (I Tm 3:2-7)


É perceptível a grande responsabilidade na qual envolve o pastor em relação à família. Se o pastor seguisse essa relação de qualidade descrita nas Escrituras Sagradas não haveria necessidades de artigos como este.

Pastor: marido e pai

Em nenhum momento o ministério dispensa o pastor de suas obrigações como marido, cabe a ele dar o carinho e afeto necessário para fazê-la feliz e realizada. O marido não pode deixar sua esposa de lado crendo que ela o aceitará exatamente como as coisas estão sendo conduzidas. Antes de serem esposas, são mulheres, que necessitam de companheirismo, atenção, reconhecimento, amor e até mesmo uma relação sexual prazerosa.

"O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher. Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência."
(I Cor. 7. 3-5).


Além de ser marido e pai é ainda o Sacerdote do lar, portanto o culto familiar é de fundamental importância para o bom relacionamento. O diálogo nunca deve faltar, pois é através dele que todos os problemas poderão ser solucionados. Ser feliz com a esposa que escolheu viver, honrando o juramento que foi feito no altar do Senhor.
Enfim, os filhos, jóias raras que Deus os confiou nas mãos dos pais. Pastores conduzam seus filhos no reto caminho de Deus, não por força nem por agressão, mas pelo amor. Os filhos não devem em hipótese alguma sentir-se obrigados a seguir a fé cristã por intermédio da vontade do pai, mas por espontaneidade própria. Deve sentir-se amigo de Deus, ansiá-lo tê-lo a cada momento de suas vidas.

"Os pais são dados à criança por estas razões: para suprir suas necessidades e para guiá-las. Ambas são essenciais para que toda a personalidade da criança possa ser desenvolvida até atingir a sua plena riqueza. [...] “Não importa que idade tenham [filhos], devemos ter muito cuidado ao dizer ‘não’ ou ao criticá-los asperamente na presença dos seus amigos ou outras pessoas.”
[14]

Trate as crianças com doçura não ferindo suas emoções. Torne-se o melhor amigo de seus filhos. Se o não fizer, o mundo se encarregará disto.
O pastor com auxilio da esposa deve seguir estas orientações de Deus para manter firmes os alicerces da família:

· Afeto. (Fp 2.1,2; Sl 2.12; Os 11.1a,4a);
· Cuidados espirituais. (Dt 11.18-21; Ef 6.4).
· O culto doméstico é indispensável.
· Cuidados gerais: Alimento, educação, saúde e demais necesidades.
· Comunicação: É preciso dar tempo para conversar com os filhos. Não provocá-los à ira (Ef 6.4); não irritá-los (Cl 3.21). PEDIR PERDÃO, quando errar.
· Disciplina: (Hb 12.7; Pv 19.18). Ver Jr 31.20.

Não poderíamos deixar de lado algo muito importante e que tem sido o foco dos principais desajustes na administração pastoral. Como fica a ordem de prioridades na vida de um ministro de Deus? É sobre ela que iremos analisar:

1) DEUS, 2) OBREIRO, 3) ESPOSA, 4) FILHOS, 5) IGREJA.
A igreja por último? Exatamente. Para cuidar dela, é necessário:

Primeiro: buscar a Deus (Mt 6.33); Isso é indiscutível.
Segundo: cuidar da própria vida de obreiro (1 Tm 4.16) para ser exemplo (1 Tm 4.12b; Tg 2.12);
Terceiro: cuidar da esposa (1 Tm 3.2a; Tt 1.5,6a; 1 Tm 3.12); A falta desse cuidado tem dado brecha para o Diabo destruir muitos ministérios, outrora tão promissores.
Quarto: cuidar dos seus próprios filhos (antes de cuidar dos filhos dos outros) (1 Tm 3.4-5;5.8). É triste procurar ganhar os filhos dos outros e perder toda a família.
Quinto: CUIDAR DA IGREJA. Ela é um alvo importante. Sem as pré-condições, há muito insucesso.
[15]

São muitos os casos de pastores que deixaram de ser reconhecidos até mundialmente por conta de não saberem colocar a ordem certa das prioridades. A busca pela orientação divina é o caminho certo para a vitória.

Percebemos que o pastor tem uma grande responsabilidade nessa jornada. Não basta ser um bom pastor. Tem que ser um bom administrador do lar, conduzindo a família em primeiro lugar aos pés Cristo. A dedicação à igreja é de suma importância, no entanto, não obterá sucesso se essa dedicação não tiver bases fortes na família.
À esposa deve-se atenção especial, fazendo-a com que se sinta no esposo a presença de Cristo. “A esposa deve ver Cristo em seu marido. Ela tem que se firmar, pela fé, no fato de que ao honrar o marido está honrando a Cristo, que o designou para ser a cabeça.”
[16]
Por sua vez, notamos que a esposa deve ser uma auxiliadora e que todos os seus atos contribuam para o crescimento e desempenho espiritual do pastor. Os dois numa só carne, num só propósito: levar almas aos pés de Cristo. Quando há essa harmonia tudo corre perfeitamente bem.
Aos pais cabe conduzir seus filhos aos céus, transformando a dura jornada em prazer e alegria. Ao buscar a compreensão, estará dando a oportunidade de abrir-lhes os olhos para perceber as bênçãos de fazer parte da família pastoral.
O exemplo do pai-pastor fala mais alto que suas palavra em sermões profundamente espirituais. Deve-se saber como dirigir-lhes a palavra, não lhe provocando a ira.

"Nenhum filme fotográfico é mais sensível quanto o espírito de uma criança. As imagens que são impressas aí determinam a direção e o destino de uma criança. [...] Como pais, somos professores sem férias. Como as ações de nossos filhos que mais nos perturbam são geralmente reflexos de nosso desempenho, devemos olhar para nós mesmos com toda honestidade. Precisamos procurar ser pessoas de verdade – livres de hipocrisia."
[17]

Por fim, ao avaliarmos as necessidades de um relacionamento com sucesso, embasados em algo seguro e eficaz, nos deparamos com a Palavra de Deus que é o nosso manual para todos os problemas. É somente com a comunhão com o Pai Maior em família que essa conquista é possível. Deus mostra o caminho, cabe a nós seguí-lo.
Esperamos que Deus, o criador da Família, antes mesmo de criar a Igreja ou o Ministério, nos faça entender pelo Espírito Santo, o Professor Excelente, que Ele fez tudo a seu tempo (prioridade) e há tempo para todo o propósito debaixo do céu (oportunidade) e mais ainda que a família tem um importante lugar nas prioridades de Deus. Ela não pode nem deve ser negligenciada. É alto o preço a pagar por aqueles que, em nome da Obra ou da Igreja, não levam em conta o valor da esposa, dos filhos ou da família. Que Deus nos ajude a entender que o primeiro púlpito deve ser o do Culto Doméstico; que as primeiras almas que temos o dever de ganhar para Jesus são nossos queridos familiares.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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REFERÊNCIAS

[1] WHITE. O lar adventista. São Paulo: Casa, 1995. p. 355.
[2] LIMA. Obreiro e sua família.

[3] SOARES. A família do pastor.
[4] Idem. Ibid.
[5] WHITE. Patriarcas e Profetas, Tatuí: Casa, 1995, p. 579.
[6] SOARES, Ibid.
[7] Apud WHITE. O lar adventista. São Paulo: Casa, 1995. p. 355.
[8] CHRISTESON. A família do cristão. Belo Horizonte: Betânia, 1996. p165.
[9] LIMA. Obreiro e sua família.
[10] COSTA. Filho de pastor: parentesco ou enigma?
[11] WHITE, Obreiros Evangélicos, São Paulo: Casa, 2000. p. 206.
[12] CAMPBELL. Filhos em perigo. São Paulo: Mundo Cristão, 2000. p. 98 e 103.
[13] Obras de Ellen G. White. Testimonies, vol. 1. 2ª vers. Tatuí: Casa Midia. [2002] CD-ROM.
[14] STREETER. Filhos precisam de pais. São Paulo: Fiel, 1986.
[15] LIMA. Obreiro e sua família. Disponível em: Acesso em: 20/03/2005.
[16] CHRISTESON. A família do cristão. Belo Horizonte: Betânia, 1996. p166.
[17] DRESCHER. Agora é hora de amar seu filho. São Paulo: Mundo Cristão, 1991. p. 36.

PODE A MENTIRA SER USADA PARA O BEM?

Por Iran Edson


Introdução

Um sacerdote católico romano, durante a Segunda Guerra Mundial, estava envolvido no movimento de resistência subterrânea de um país sob o poder militar nazista. Ele foi apanhado e pressionado a confessar. Muitas vidas estavam em suas mãos. Ele não mentiu e disse aos alemães que de fato, fazia parte do movimento. O resultado foi desastroso, todos morreram.[1] Se ele tivesse mentido, poderia ter salvado aquelas pessoas e também a si mesmo. Poderíamos considerar a mentira, em situações como estas, algo benéfico e justificável?
A Bíblia está cheia de textos que deixam claro que a mentira é pecado e que o cristão deve libertar-se deste mal. O mentiroso não herdará o reino dos céus, conforme lemos em Apocalipse 21:8: “Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte” (Ap 21:8). A introdução do pecado no mundo e nossa conseqüente escravidão começou com uma mentira: “certamente não morrereis” (Gn 3:4).
Que é errado mentir todos sabem, mas ficamos em conflito quando nos deparamos com situações nas quais a mentira parece ser a melhor saída. Seria errado o uso da mentira em tais situações? Há casos em que ela pode ser justificada e perdoada por Deus?

As mentiras na Bíblia

Há casos na Bíblia em que os servos de Deus mentiram e aparentemente foram aprovados por Deus. Como é possível entender tais casos numa perspectiva de um “Deus, que não pode mentir” (Tt 1:2)? Para isso analisaremos os casos mais indicativos desta aparente controvérsia.

Abraão mente que Sara é sua irmã

Sara era uma mulher muito bonita e Abraão temendo ser morto pelos egípcios elabora uma estratégia usando uma “meia-verdade” para ser livre da morte instruindo a Sara que minta ser ela sua irmã (Gn 12:13). Deus intervém por meio de um sonho e adverte faraó. É interessante notar que mesmo Abraão mentindo, além de não ser morto, ainda leva consigo riquezas e bens oferecidos por faraó. Norman L. Geisler argumenta claramente que este ato não foi aprovado por Deus e sugere que os anos de dificuldades que Abraão viveu posteriormente foram devidos à sua falta de fé. Ele explica: “Os presentes do faraó são compreensíveis. O faraó pode ter sentido obrigado a recompensar o constrangimento terrível que sua sociedade corrupta exercia sobre os que visitavam sua terra, e também por levar indevidamente sua mulher para o seu palácio. O adultério era estritamente proibido pela religião egípcia”.
[2] Nenhuma recompensa houve por mentir.

Raabe mente para salvar os espias

Josué envia os espias a Jericó e Raabe os esconde e mente dizendo que eles não estavam mais ali e que não sabia onde estavam, e eles foram salvos (Js 2:3-6). O relato continua e afirma que Deus abençoou e poupou a ela e a sua família pelo seu ato. Aqui apresenta um dos mais tradicionais dilemas do assunto em questão. Teria Deus abençoado uma mentira? Geisler
[3] explica que os comentaristas bíblicos se dividem apresentando dois argumentos: (1) Deus não a abençoou pela mentira, mas pela fé (Hb 11:31). Houve arrependimento, uma busca pelo Deus verdadeiro. (2) Raabe enfrenta um conflito moral tornando impossível falar a verdade e livrar os espias. Portanto, Deus não a responsabilizaria pela sua mentira. Devemos considerar que Raabe passou a temer a Deus, mas não O conhecia suficientemente, nem os seus estatutos. “Mas Deus, não levando em conta os tempos da ignorância” (At 17:30) dá a Raabe a oportunidade do arrependimento.

As parteiras hebréias mentem para salvar os bebês

Este é outro ponto forte do tema. Percebe-se que Sifrá e Pua temiam a Deus e por isso não mataram os bebês e ainda mentiram ao faraó que as mulheres hebréias davam à luz antes que elas chegassem. Este pode ser um, senão o maior, dos dilemas morais enfrentados na Bíblia, pois não se tratava de mentir para impedir que alguém matasse, se tratava de mentir ou matar com as próprias mãos. Muito mais importante que obedecer às leis governamentais é proteger vidas inocentes. “Há um conflito inevitável com a lei moral maior. Somente quando há um conflito raro, inevitável com umas das leis morais maiores de Deus, é que Ele suspende nosso dever para com a verdade”
[4], comenta Geisler. Devemos obedecer ao governo quando não há conflito com as leis de Deus, porém, “antes obedecer a Deus que aos homens”. (At 5:29)

Analisando casos contemporâneos

Um paciente em fase terminal pergunta ao médico sobre seu real estado de saúde. Deveria, portanto dizer a verdade e correr o risco de um sofrimento maior? “Parece ser aceitável por todos os médicos ocultar a proximidade da morte a um doente terminal ou seu parente mais próximo, numa espécie de mentira piedosa e autoconsentida”
[5], comenta Caruso Samel. É claro que nenhuma pessoa, que tem amor e respeito para com o próximo, pretende prejudica-lo ainda mais, porém, usar de um artifício do engano está longe do ideal. O apóstolo João é enfático quando diz que “nenhuma mentira vem da verdade” (1 Jo 2:21). O correto seria falar somente o necessário, não contando toda a verdade e se preservar do pecado. Pois se é da vontade de Deus, Ele pode restaurar-lhe a saúde. Assim apresenta White aos relatar:

"Muitos, temendo chocar ou desanimar um paciente com a declaração da verdade, dão-lhe falsas esperanças de cura, permitindo mesmo que desça ao túmulo sem o advertir do perigo. Tudo isso é falta de sabedoria. Talvez nem sempre seja seguro, nem o melhor a fazer, explicar ao doente toda a extensão de seu perigo. Isso poderia alarmá-lo e viria a retardar ou mesmo impedir o restabelecimento. [...] Mas, embora a verdade não possa ser dita inteiramente em todas as ocasiões, nunca é necessário nem justificável enganar. Nunca o médico ou a enfermeira devem descer à mentira. Aquele que assim faz coloca-se em posição em que Deus não pode com ele cooperar; e, perdendo a confiança de seus clientes, está desperdiçando um dos mais eficazes auxílios para a restauração."
[6]

Ron du Preez
[7], em seu artigo para a revista “Diálogo” entitulado “Deveríamos sempre dizer a verdade, mesmo com risco de vida?”, relata o fato ocorrido na época em que o exército de Hitler caçava os judeus. Havia uma jovem adventista temente a Deus e, espelhada em Jesus, tinha um amor grandioso pelos semelhantes. Mesmo sabendo do risco que corria, deu proteção e abrigo a Fritz, um menino judeu. Um dia, o exército bate à sua porta e pergunta: “Fritz está em sua casa?” E agora? O que fazer? Confiando na atuação divina, a Sra. Hasel encarou o soldado e disse: “Como oficial do exército alemão você sabe qual é sua responsabilidade, e você está convidado a cumpri-la”. Com o sentimento de culpa sobre seus ombros, o nazista deu meia-volta e foi embora.
Muitos poderiam ter contado uma mentira, pois acreditam que “é correto mentir quando o mentir realizará um bem maior do que o não mentir”.
[8] Porém,“veracidade e integridade são atributos de Deus, e o que possui estas qualidades possui um poder invencível”[9]. A Sra. Hasel possuía essas virtudes e experimentou este poder de livramento vindo do Salvador.
Acompanhe agora, o caso de Falcão
[10], um jovem ex-traficante do Rio de Janeiro, que cansado da vida de erros decidiu entregar a vida a Cristo e converteu-se. Um dia foi à casa do pastor de sua igreja e diz que precisa ir embora, pois corria risco de vida. Quando estavam se despedindo, perceberam a chegada dos traficantes. Ele se escondeu dentro de um armário enquanto o pastor foi abordado pelos bandidos que perguntaram por Falcão. Iriam executá-lo por saber demais. O pastor confirmou que ele esteve em sua casa, mas, como ele não sabia, emprestou-lhe dinheiro para visitar um parente doente que morava muito distante e, para ficar ainda mais real, convidou-os para entrar e tomar um chá com ele. Diferente da Sra. Hasel, o pastor não depositou a confiança no poder divino. Assim como Rebeca (Gn 27), o pastor quis ajudar a Deus a resolver seus problemas.
Os traficantes foram embora, porém, o pastor correu um grande risco de tudo dar errado. Ninguém podia garantir que os traficantes, cheios de ódio e desconfiança, dariam meia-volta deixando-os em paz. Poderiam perceber algum traço de mentira e tudo estaria perdido. Quando uma pessoa está sob pressão e medo, a mentira pode deixá-lo em situação que, a qualquer deslize, pode ser desmascarado. O psicólogo Airton Amélio da Silva, professor de comunicação não-verbal do Instituto de Psicologia da USP afirma que “os sinais faciais e a voz são as maiores pistas da falsidade”
[11], e a pessoa que é temente a Deus, que não faz uso da mentira no seu dia-a-dia, está ainda mais vulnerável a descuidar-se e deixar transparecer o que realmente sente. “Às vezes por uma fração de segundo deixamos escapar a verdade”[12], comenta Airton. Isso pode colocar em risco não só a pessoa que está sendo protegida, mas também, a pessoa que tentou salvá-la por meio do engano.
O sábio Salomão adverte que, principalmente em situações como estas, “nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso” (Pv 30:6). Estamos tão acostumados a mentir em situações tão banais que, quando vemos ou ouvimos casos em que a mentira foi usada para “salvar” vidas, louvamos este ato “heróico” por não confiarmos plenamente na providência divina.
De acordo com Geisler
[13], o cristão nunca deve mentir para salvar uma vida. Ele afirma que (1) há apenas um dever: contar a verdade e (2) a escolha não é, neste caso, entre mentir ou matar, como no caso das parteiras hebréias. Pelo contrário, a escolha está entre mentir e deixar que outra pessoa mate. O cristão deve contar a verdade e o problema fica com o assassino e o que ele fará com a verdade. “Ao resolver sobre qualquer caminho a seguir em nossos atos, não devemos indagar se podemos ver que resultará mal do mesmo, mas se está de acordo com a vontade de Deus.”[14]

Conclusão

Deus permite que situações de crise e provações aconteçam para que se manifeste a grandeza do Seu poder. Podemos ver claramente isso nos relatos bíblicos da história de Daniel e seus amigos Sadraque, Mesaque e Abednego que foram fiéis a Deus e Ele os livrou tanto do fogo quanto dos leões. A ordem do rei Nabucodonosor de adorar os deuses pagãos poderia ser atendida com uma falsa adoração, poderiam prostrar-se e adorar ao Deus verdadeiro fingindo ser aos outros deuses, uma mentira que não prejudicaria ninguém e os pouparia da punição. No entanto, a resposta daqueles fiéis jovens foi direta e firme em suas convicções: “Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas mãos, ó rei” (Dn 3:17). Nem mesmo Daniel que fazia parte do conselho real ficou livre da ordem do rei, pelo contrário, seus adversários queriam matá-lo a qualquer custo. O próprio rei posteriormente, ao permitir que se cumprisse o decreto em Daniel, fortalece-o com palavras de reconhecimento e temor: “teu Deus, a quem tu continuamente serves, Ele te livrará” (Dn 6:16).
Não devemos temer em falar a verdade, devemos depositar nossa confiança em Deus.

Deixai que vosso caso descanse em Suas mãos. Seja vossa oração: “Senhor, apresento-Te minha petição. Em Ti ponho minha confiança, e rogo a bênção que Tu vejas que será para minha utilidade presente e futura e para meu eterno bem”. Ao vos erguerdes dos joelhos, crede! Quando o inimigo vier com suas trevas, “Regozijai-vos, sempre, no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos.” (Fp 4:4). Os que isto fazem têm uma vida de contentamento.
[15]

O problema da mentira é que quando a aceitamos uma vez, mesmo que para “o bem”, estamos nos condicionando a aceitá-la cada vez mais, podendo cair no erro de nos acostumarmos com ela e passar a usá-la em todas as situações. Se tomarmos como base o generalismo e crermos que há ocasiões em que a regra pode ser quebrada, então é certo afirmar que no final do grande conflito, quando os cristãos estiverem sendo perseguidos e capturados, pode-se negar a fé de “mentirinha” para ser poupado a vida, pois estaria fazendo um bem maior.
O cristão deve ter seus princípios fundamentados em Cristo Jesus e lutar para ser mais semelhante a Ele que “em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4:15). Ellen G. White fortalece este conceito admoestando aos cristãos: “Nunca prevariqueis; nunca profirais mentiras, quer por preceito ou exemplo. [...] Sede retos e constantes. Mesmo uma leve mentira não deve ser permitida”.
[16] Deus tem uma recompensa para aqueles que confiam em seu poder protetor e que, mesmo correndo risco de vida, entregam as decisões nas Suas mãos. Ele diz: “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap 2:10). Não vale a pena deixar-nos iludir pela saídas que a mentira aparentemente nos oferece. White nos lembra de que “Melhor é morrer do que pecar; melhor é sofrer necessidade do que enganar; melhor é sofrer fome do que mentir. Todos os que são tentados enfrentem Satanás com as palavras: ‘Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos Seus caminhos! [...] Feliz serás, e tudo te irá bem.’ (Sl 128:1 e 2)”.[17]

Referências:

[1] R. N. Champlin. O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Dicionário M-Z, volume 7, 2.ª edição, São Paulo: Hagnus, 2001, p. 4742.
[2] Norman L. Geisler, Enciclopédia de apologética: respostas aos críticos da fé cristã. São Paulo: Vida, 2002, p. 552 e 553.
[3] Geisler. Ética cristã: alternativas e questões contemporâneas, São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 553.
[4] Geisler. Enciclopédia, p. 555.
[5] Caruso Samel. Reflexões sobre os sentimentos. Rio de janeiro, RJ: Centro Redentor, 2005, p. 91.
[6] Ellen G. White, a Ciência do bom viver. , in CD-ROM: Obras de Ellen G. White. Versão 2.0 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.).
[7] Ron du Preez, “Deveríamos sempre dizer a verdade, mesmo com risco de vida?” disponível em: Acesso em 10 dez. 2006 (Preez comenta que o Dr. Gerhard F. Hasel contou essa história numa reunião da “Adventist Theological Society” em novembro de 1994.
[8] Geisler. Ética, p. 12.
[9] White. Minha consagração hoje: meditação matinal. in CD-ROM: Obras de Ellen G. White. Versão 2.0 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.).
[10] Este relato foi contado em um chat de discussão de perguntas e respostas bíblicas em 28 dez. 2006.
[11] Rodrigo Ratier, “Abaixo a mentira, vote na verdade”. In Galileu, São Paulo: Globo, 11 out. 2000, v. 9, n. 111, p. 64.
[12] Idem.
[13] Norman L. Geisler; Paul D. Feinberg, Introdução à filosofia: uma perspectiva cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 330.
[14] White., Patriarcas e Profetas, in CD-ROM: Obras de Ellen G. White. Versão 2.0 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.).
[15] White. Mente, caráter e personalidade. in CD-ROM: Obras de Ellen G. White. Versão 2.0 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.).
[16] White. Minha consagração, p. 331.
[17] White. Vidas que falam: meditação matinal. in CD-ROM: Obras de Ellen G. White. Versão 2.0 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.).


BIBLIOGRAFIA

CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo: Dicionário M-Z, volume 7, São Paulo: Hagnus, 2001.
GEISLER, Norman L. Enciclopédia de apologética: respostas aos críticos da fé cristã. São Paulo: Vida, 2002.
_________________. Ética cristã: alternativas e questões contemporâneas, São Paulo: Vida Nova, 2005.
GEISLER, Norman L.; Paul D. Feinberg. Introdução à Filosofia: uma perspectiva cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005.
RATIER, Rodrigo. “Abaixo a mentira, vote na verdade”. In: Galileu, São Paulo: Globo, 11 out. 2000, v. 9, n. 111.
SAMEL, Caruso. Reflexões sobre os sentimentos. Rio de janeiro, RJ: Centro Redentor, 2005.
PREEZ, Ron du. “Deveríamos sempre dizer a verdade, mesmo com risco de vida?” Disponível em: Acesso em 10 dez. 2006.
WHITE, Ellen G., a Ciência do bom viver in CD-ROM: Obras de Ellen G. White. Versão 2.0 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.).
_____________. Mente, caráter e personalidade in CD-ROM: Obras de Ellen G. White. Versão 2.0 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.).
_____________. Minha consagração hoje: meditação matinal in CD-ROM: Obras de Ellen G. White. Versão 2.0 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.).
_____________. Patriarcas e Profetas, in CD-ROM: Obras de Ellen G. White. Versão 2.0 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.).
_____________. Vidas que falam: meditação matinal in CD-ROM: Obras de Ellen G. White. Versão 2.0 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.).

MENTIR OU NÃO MENTIR? EIS A QUESTÃO!

Por Iran Edson

“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Fil. 4:8)

Falar a verdade parece ser uma tarefa difícil, ainda mais quando somos colocados em situações de risco moral ou até mesmo vital. O homem em seu dia-a-dia tem se envolvido nas mais diversas formas de mentira para obter aquilo que anseia, seja no trabalho, na escola, no relacionamento amoroso, no círculo da amizade, na infância, adolescência e maturidade, e até mesmo na religião. Em todas e quaisquer situações a mentira parece fazer parte do círculo vital do ser humano.

“Não é todavia, coisa leve ou fácil falar a exata verdade; e quantas vezes opiniões preconcebidas, peculiares disposições mentais, imperfeito conhecimento, erros de juízo, impedem uma justa compreensão das questões com que temos de lidar! Não podemos falar a verdade, a menos que nossa mente seja continuamente dirigida por Aquele que é a verdade.”
[1]

Mas, existem situações nas quais uma mentira se faz necessária? Existe alguma forma de mentir sem ir contra a Palavra do Senhor? Qual é a diferença entre a mentira considerada grave e uma mentira inofensiva? Quando podemos mentir e quando não podemos? Essas são algumas perguntas que circulam na mente de muitas pessoas, principalmente dos jovens.
[2]

O Poder da Palavra

A palavra sempre foi uma ferramenta de grande poder. Através dela, o ser humano tem conquistado seu espaço na sociedade. Por todos os séculos, a palavra teve o seu papel importante na história.
Voltemos ao passado, a um tempo muito remoto, um tempo muito antes de que tudo existisse, um tempo em que “a terra, era sem forma e vazia” (Gen 1:2). Apenas Deus havia ali. Deus através de sua palavra fazia as coisas acontecerem. “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo sopro da sua boca. [...] Pois ele falou, e tudo se fez; ele mandou, e logo tudo apareceu” (Sal. 33:6 e 9). “Tudo que existe brotou da palavra de Deus. Essa Palavra é o elemento mais poderoso que há no Universo”.
[3]
A palavra do homem também tem poder. “A palavra meramente humana pode entristecer, angustiar, animar, alegrar, convencer, persuadir, provocar mudanças, fazer coisas acontecerem”
[4] e até destruir.
A palavra foi criada para o bem de todos e Deus quer que saibamos usar corretamente as palavras, Ele diz: “Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar” (Êxo. 4:12). Infelizmente, o homem tem usado indevidamente as palavras, e o poder que nelas há tem provocado grandes prejuízos para a humanidade.
“Essa palavra pode ter um grande efeito para o bem ou para o mal. Alguns indivíduos conseguiram até alterar o curso da História, em grande parte devido ao poder da palavra. Entre eles estão Jesus, Hitler e Gorbarchev, apenas para citar alguns”.
[5]

A Mentira na Vida do Ser Humano

“Satanás foi o primeiro ser que começou a mentir, fingir e a enganar. Ele tramava contra Deus por baixo dos panos, pensando que de alguma forma iria enganar o seu criador”. [6] Queria tomar o lugar de Deus, e com sua astúcia arrastou a terça parte dos anjos. Quando Adão e Eva foram criados, viviam no Éden em plena perfeição, mas Satanás aparece a Eva, enganado-a em forma de serpente, e profere a primeira mentira na terra: “Certamente não morrereis” (Gen. 3:4). A partir daí o homem conheceu o pecado e conseqüentemente a morte, "Porque o salário do pecado é a morte" (Rm. 6:23). O homem passou a conviver com a mentira, acostumando-se a ela e, com o passar dos anos, considerou-a normal e por vezes necessária. “Tu amas mais o mal do que o bem, e mais a mentira do que o falar conforme a retidão” (Sal. 52:3).
Na Bíblia, encontramos vários personagens que se envolveram com a mentira, muitos dos quais eram servos de Deus. Caim mentiu quando Deus lhe perguntou onde estava seu irmão (Gen. 4:9), Abraão negou que Sara era sua mulher (Gen. 20:2 e 5), Jacó mentiu para receber a bênção da primogenitura (Gên. 27:18-24), Mical mentiu que Davi estava doente para ganhar tempo para a sua fuga (I Sam. 19: 13 e 14), Raabe mentiu para salvar aos espias (Jos. 2:1-6), três vezes Pedro mentiu negando conhecer a Cristo (Luc: 22:54-62) e muitos outros.
No mundo moderno, a mentira parece necessária para a sobrevivência. “Muitas vezes fazemos uso da mentira para evitar um sofrimento, para impedir um mal maior, para evitar sermos prejudicados de alguma forma ou mesmo para proteger as pessoas amadas de sofrerem por causa de um problema qualquer”.
[7] É comum achar que uma mentirinha inofensiva, quando queremos nos desculpar ou deixar de fazer alguma coisa, não faz mal.

“A maioria das posições éticas evita a posição antinomista contra todas as normas objetivas. Uma maneira de fazer isto sem condenar a mentira é sustentar que mentir é, geralmente, mas não sempre, errado. Ou seja, mentir é errado como regra geral, mas há ocasiões em que a regra deve ser quebrada, por exemplo, quando um bem maior é realizado (salvar uma vida). Que a pessoa não deve contar uma mentira é objetivamente significante mas não é universal. Nalgumas circunstâncias a pessoa deve mentir. Logo, este princípio moral (e outros também) é geralmente, mas não universalmente, válido. Ou seja: dentro do alcance dos princípios éticos, são objetivamente válidos. Mas as normas éticas não são universais, há exceções”.
[8]

“Segundo pesquisas neurocientíficas, mentimos cerca de 200 vezes por dia e uma vez a cada cinco minutos, em média. A estatística soa exagerada, mas parece apontar aos depoimentos nas CPIs do Congresso Nacional. Ouvindo os interrogatórios, é quase impossível saber o que é verdade ou não, tantos são os desmentidos e contradições”.
[9]
Estamos tão acostumados com a mentira que a usamos muitas vezes sem pensar e outras, pensamos para agir. O mundo secular impõe certas “condições” para o uso delas: “Tudo vai depender da mentira contada. Às vezes, uma ‘mentirinha’ não faz mal a ninguém, pelo contrário, até ajuda a evitar brigas e discussões, como no caso da pessoa que mente para não revelar que estava conversando com amigos, justamente para evitar conflitos com a esposa que morre de ciúmes dele estar com amigos”.
[10]
Este é o meio em que nós vivemos, pessoas corruptas de pensamentos distorcidos que buscam o benefício próprio utilizando a mentira como ferramenta de sucesso, passando por cima de tudo e de todos a fim de alcançar o seu objetivo. Infelizmente, não estamos a salvo no mundo religioso. A mentira ultrapassou as fronteiras do cristianismo e invadiu nossas igrejas. “Mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador” (Rom. 1:25). “Profetas que profetizam mentiras, e que são só profetas do engano do seu próprio coração” (Jer. 23:26). Membros, dirigentes e pastores que cedem às ciladas do inimigo para conquistar status e posições no círculo religioso. “Satanás oferece aos homens os reinos do mundo se lhe concederem a supremacia. Muitos fazem isso e renunciam ao Céu. Antes morrer do que pecar; é melhor passar necessidade do que defraudar; melhor passar fome do que mentir”.
[11]

Como tudo começa?

A mentira é uma fantasia que nos anima a prosseguir mentindo. Desde pequenos ouvimos nossos pais contando muitas histórias repletas de inverdades. Papai Noel, Bicho-papão, Lobo-mau, são exemplos claros desta situação.

“Na fase da adolescência e do descobrimento essas histórias que são criadas pelos jovens assumem tamanhos exorbitantes e podem causar inúmeros problemas para eles no colégio, trabalho e círculo de amizades. E a vida vai passando, os problemas vão aumentando, as fugas enganosas vão se tornando cada vez mais freqüentes e até, em certo ponto, ‘inevitáveis’ para aqueles que passaram toda sua vida assim”.
[12]

O adolescente quando está passando para a fase adulta carrega consigo tudo aquilo que vai aprendendo no caminhar da sua vida. Pais, educadores e parentes e amigos mais próximos influenciam seus passos e mesmo depois de adulto, o indivíduo não esquece das dificuldades de relacionamento com o Mundo Adulto quando tinham a mesma idade, bem como a conduta reta e exemplar, pois também é comum o dito popular Faça o que eu digo e não faça o que eu faço. Não é difícil encontrar pessoas que passaram por esta situação: um pai repreende seu filho e mostra a diferença entre a mentira e a verdade, e afirma que sempre deve dizer a verdade, custe o que custar. No mesmo instante, o telefone toca e o pai exclama:
_ Se for algum cobrador dica que eu não estou!!!
Como fica a mente do jovem após um ocorrido desse? Devemos foiçar atentos para essas questões e começar a dar bom testemunho a partir do nosso lar.
[13]

“Uma mãe a quem falta discernimento, e que não segue a orientação do Senhor, pode educar os filhos para serem enganadores e hipócritas. Os traços de caráter assim alimentados podem torna-se tão persistentes que mentir seja tão natural como respirar. A falsidade será tomada por sinceridade e verdade.
Pais, nunca mentir nem dizer uma inverdade por preceito ou exemplo. Se quiseres que vossos filhos sejam fiéis, sedes fiéis vós mesmos. Sede retos e firmes. Nem mesmo a menor mentira deve ser permitida. Se a mãe está acostumada a mentir e a não ser veraz, a criança segue o seu exemplo.”
[14]

O cristão e a mentira

“Mentir é falar ou dizer algo contrário à verdade; é a expressão e manifestação contrária ao que alguém sabe, crê ou pensa. Pode-se crer na mentira, falar mentira e praticar a mentira. É o engano em seus diferentes aspectos; nocivo ao ser humano e ofensa grave diante de Deus”. [15] Apesar de tudo, os cristãos não devem ceder às tentações do inimigo e deixar-se levar pelo impulso da mentira.

“Deus quer que os homens ao Seu serviço, sob Sua bandeira, sejam estritamente honestos, de caráter irrepreensível, que sua língua não pronuncie nada que se assemelhe a uma inverdade. A língua deve ser verdadeira, verdadeiros os olhos, as ações inteira e completamente de molde que Deus as possa recomendar.”
[16]

Alguns insistem em dizer que há mentiras inofensivas, mas isso já é uma tremenda mentira. Não existem mentiras pequenas e mentiras grandes, o que existem são diversidades de conseqüências. Toda mentira provém do diabo e não deve ser praticada. Aqueles que se conformam e aceitam a mentira estão afiliando-se ao inimigo. “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai, ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele, quando ele profere mentira fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira”. João 8:44.
Quando proferimos uma mentira, criamos um círculo vicioso. Mentimos para sairmos de uma determinada situação e depois mentimos novamente para encobrir a primeira mentira e assim por diante, quando percebemos, já estamos totalmente envolvidos a tal ponto que é quase impossível parar. Paulo, em uma de suas cartas, dá um conselho importante: “Tenham uma conversa agradável e sensata, pois assim vocês terão a resposta certa para todo mundo” (Col. 4:6 BV). Não devemos proferir qualquer que seja a mentira nem nada que se assemelhe a uma inverdade. Jesus disse: “Seja, porém, a tua palavra: sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno” (Mat. 5:37).

“Aqueles que tem aprendido de Cristo não terão comunicação ‘com as obras infrutuosas das trevas’. (Efés. 5:11). Na linguagem, como na vida, serão simples, retos e verdadeiros; pois estão-se preparando para a companhia daqueles santos em cuja boca ‘não se achou engano’. (Apoc. 14:5).”
[17]

Deus deseja que seus filhos sejam imitadores da verdade e não imitadores do engano. Todos quantos buscam diligentemente a palavra de Deus e atende aos seus desígnios são recompensados já aqui na terra e serão muito mais no céu. Porém, todos quanto o coração está acostumado com a mentira e não busca o poder restaurador de Cristo Jesus “ficarão de fora [...] qualquer que ama e comete a mentira”. (Apoc. 22:15).

Deus aceita a mentira quando é em prol de uma causa maior?

Em nenhum momento Deus aprova uma mentira. A mentira é um pecado grave e, uma pequena mentira inofensiva pode causar enormes. “O que usa de engano não ficará dentro da minha casa; o que profere mentiras não estará firme perante os meus olhos” (Sal. 101:7). “Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor; mas os que praticam a verdade são o seu deleite” (Prov. 12:22). Toda mentira, pequena ou grande, é um instrumento do diabo, portanto é recomendável que o crente não se comprometa com coisa alguma que possa levá-lo a mentir.
Se Jesus é a verdade (João 14:6) e o diabo é o pai da mentira (João 8:44), como pode haver conciliação entre Jesus e o diabo? A luz não se mistura com as trevas, pelo contrário, onde há luz, por menor que seja, as trevas se dissipam.
Há relatos bíblicos a respeito dos personagens que cometeram mentiras e mesmo assim parece não serem condenados por Deus apesar de seus pecados. Há quem diga que, “nesses casos, não houve a mentira no sentido comum, de prejudicar alguém, mas, “omissão da verdade” em prol de uma causa maior”. Isso não é verdade. Deus age de maneira graciosa. Ele abomina o pecado, porém, ama o pecador.
Quando lemos na Bíblia sobre uma mentira cometida por um personagem bíblico, encontramos suas conseqüências por haverem cometido pecado.

"Ananias e Safira são um exemplo de que Deus realmente se importa que sejamos justos, honestos e verdadeiros. Para quem não conhece a história desse casal, revelada em Atos 5: 1-11, eles foram aqueles que venderam sua propriedade mas mentiram diante dos apóstolos, retendo parte do dinheiro e depositando o restante aos pés de Pedro. Morreram na mesma hora, sem que ninguém conseguisse explicar o motivo. A falha de Ananias e Safira não foi reter parte do dinheiro, mas mentir sobre seu valor exato."
[18]

Jacó, porque mentiu, teve que viver longe da família, fugido do irmão Esaú, trabalhar 14 anos para casar com quem ele amava.
Em relação a Raabe (Jos. 2:1-6) e às parteiras hebréias (Êx 1.15-21), podemos notar que não havia o conhecimento de Deus e Sua palavra, sendo assim, “Deus, não levando em conta os tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam” (Atos 17:30)
Não podemos mudar nosso passado, mas, em Cristo Jesus, podemos mudar o nosso futuro. Uma vez convertidos, devemos seguir no caminho que leva a Deus, buscando obedece-lO. “Pelo que deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros” (Efés. 4:25).

Com a entrada do pecado o mundo passou a viver na mentira. Enganados pelo diabo, passou a aceitar a mentira como algo comum na vida humana e se aproveitou dessa astúcia diabólica para tirar proveito pessoal. Porém, junto com a mentira veio a morte.
Todos vivem hoje em pecado e a mentira vive em suas bocas como um delicioso doce a qual não querem parar de saboreá-la. “Tu amas mais o mal do que o bem, e mais a mentira do que o falar conforme a retidão” (Sal. 52:3).
Deus abomina qualquer tipo de mentira, quer seja ela grande ou pequena, grave ou inofensiva. Mentira sempre será mentira e seu pai sempre será o diabo.

"Tudo quanto os cristãos fazem deve ser tão transparentes como a luz do Sol. A verdade é de Deus; o engano, em todas as suas múltiplas formas, é de Satanás; e quem quer que, de alguma maneira, se desvia da reta linha da verdade, está-se entregando ao poder do maligno."
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Não se resolve a questão do pecado com auto-ajuda, mas é buscando a ajuda do alto que os seres humanos são justificados em Cristo Jesus e adquire o poder restaurador para vencer todo e qualquer vício, por mais impregnado possa parecer. Jesus disse: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). Siga esse caminho, encontra a verdade e receba a vida eterna.
“Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Apoc. 2:10).

Referências:
[1] White, O Maior Discurso de Cristo, 68.
[2] Breno Amaral, Mentirinha e mentirona, web.
[3] Emilson dos Reis, Como Preparar e Apresentar Sermões, pág. 99.
[4] Ibidem, pág. 101.
[5] Ibidem.
[6] Amaral.
[7] Olga Inês Tessari, Dia da Mentira, web.
[8] João Antônio R. Alves, Apostila de Ética Cristã. 37.
[9] Juliana Vilas, Mundo dos Pinóquios, web.
[10] Tessari.
[11] Ellen G. White, Eventos Finais, 142.
[12] Amaral.
[13] Alves, Ibidem.
[14] White, Orientação da Criança, pág. 151.
[15] Autor desconhecido, A Mentira, web.
[16] White, Orientação da Criança, pág. 152.
[17] White, O Maior Discurso de Cristo, 69.
[18] Alves, Ibidem.
[19] White, O Maior Discurso de Cristo, 68.

Referências Bibliográfica:

Bíblia de Referência Thompson, Trad. João Ferreira Almeida. 15º ed. São Paulo: Editora Vida, 2002.
REIS, Emilson dos. Como preparar e apresentar sermões. Tatuí – SP: Casa Publicadora Brasileira, 2002
WHITE, Ellen G. Eventos finais. Trad. Naor G. Conrado. 5ª ed. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1993.
WHITE, Ellen G. O maior discurso de Cristo. Trad. Isolina Waldvogel. 12ª Ed. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2002.
WHITE, Ellen G. Orientação da criança. Trad. Renato Bivar. 7ª ed. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1995.
A falsidade. Disponível em: http://www.cpad.com.br/paginas/sub_juvenis_002.htm. Acessado em 26 de abril de
A mentira. Disponível em: http://www.olhosnegros.bigblogger.com.br Acessado em 26 de abril de 2006.
ALVES, João Antônio R., Apostila de Ética Cristã – SALT IAENE. Cachoeira – BA: 1997. Acessado em 26 de abril de 2006.
AMARAL, Breno. Mentirinha e mentirona Disponível em: http://www.lagoinha.com/noticias/ver_materia.asp Acessado em 26 de abril de 2006.
2006.
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TESSARI, Olga Inês. Dia da Mentira Disponível em: http://ajudaemocional.tripod.com/rep/id124.html- Acessado em 26 de abril de 2006.
VILLAS, Juliana, Mundo dos Pinóquios, Disponível em: http://ajudaemocional.tripod.com/rep/id124.html- Acessado em 26 de abril de 2006.
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O exemplo do cristão 2. Disponível em: http://www.tabernaculo.com.br Acessado em 26 de abril de 2006.